sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

SER OU NÃO SER ASSUMIDA??? (DIEDRA ROIZ)






“Desde que a vida tem a mesma duração, seja qual for a maneira de viver, é mais vantajoso viver com alegria e satisfação. Da mesma forma, uma vez que a vida é de contínua atuação, é mais valoroso atuar com prazer. Em vez de viver dias cinzentos reclamando e se sentindo forçada a fazer as coisas, use sua criatividade e viva de forma mais prazerosa”. (Daisaku Ikeda).


Tirei essa frase de um livro maravilhoso que ganhei. Se chama “365 dias – frases para mulheres”. É uma coletânea de frases do meu mestre, o Dr. Daisaku Ikeda. Estava bem ali, na data de hoje (é daquele tipo de livrinho onde você tem uma mensagem por dia). Como coincidências não existem, não foi à toa que a frase se encaixou perfeitamente no assunto que eu tinha em mente para essa semana:


Ser ou não Ser Assumida?


Eis a questão…


Como tudo na vida, isso também é relativo. No meu caso foi indolor e tranquilo. Mas sou exceção, não a regra. E confesso que tenho uma boa sorte incrível.


Explico:

- Nasci numa família muito inusitada. O que quero dizer com isso? Fui criada para não ter preconceitos. Para dar importância a quem eu era e o que realmente queria, não importando o que os outros fossem pensar.


Outro ponto fundamental:

- A minha primeira experiência com uma mulher não foi movida apenas por atração sexual. Eu estava apaixonada.


Melhor ainda:

- Era correspondida. Foi meu primeiro amor, primeira namorada e primeira esposa.

- Estudávamos numa faculdade de teatro. Ser hetero era uma desvantagem.

- Lembro que ficamos no meu quarto ligando para todos os amigos gays (eram a maioria) contando a novidade.


Eles ficavam felizes, uma coisa meio:

- “Bem vindas ao nosso lado!”


Passamos a ser convidadas para festas que antes (por sermos hetero) não éramos chamadas. (É... Preconceito é uma via de mão dupla, não é verdade? Mas esse é um assunto sobre o qual ainda vou falar).


Contar para minha família (minha irmã e meu pai – minha mãe e meus avós já tinham falecido) também não foi nada demais. Os dois acharam absolutamente normal.


Minha melhor amiga?


Aquela que me conhecia desde os 13 anos? Não é à toa que é minha melhor amiga, não é verdade? Tinha acabado de conhecer um cara maravilhoso (e era mesmo, tanto que ficaram 12 anos casados). Saímos a quatro. Num certo momento levantamos da mesa e fomos juntas ao banheiro (clássico!).



Perguntamos ao mesmo tempo:

- O que você achou?

- Voltamos rindo, com os novos amores aprovados.

Tudo isso facilitou a minha vida. E como!



Pensem:

- Não tive problemas em me assumir para mim, nem para os meus amigos, muito menos para a minha família… Perfeito! Ou quase…

- A família da minha primeira namorada não era assim tão liberal. Fui apresentada como amiga. Mas era difícil, quase impossível disfarçarmos. Até porque mãe que é mãe sempre sabe…

- Começaram a desconfiar. Ficávamos juntas tempo demais. Dormíamos juntas vezes demais (umas 5 vezes por semana, alternando as casas).

- Muitas vezes tive que entrar no apartamento dos pais dela me esgueirando quando todos estavam dormindo. Outras me esconder debaixo da cama quando alguém batia na porta do quarto. Fazer amor do tipo “filhos do silêncio” onde o máximo que se pode fazer – com muito cuidado – é sussurrar no ouvido muito, mas muito baixinho.



Até o fatídico dia em que minha sogra encontrou um cartão “incriminador” de aniversário. Depois de uma discussão terrível, minha então namorada, que não levava desaforo para casa, pegou algumas roupas e saiu de casa. Minha sogra então – pasmem! – ligou para mim. Lembro que no turbilhão de coisas que ela gritava, sempre repetia a seguinte – e estranhíssima – frase:

- Vocês não são um casal! Casal é homem e mulher! Vocês são uma dupla!

- Uma dupla!

- O resultado? Fomos morar juntas. Diante do inevitável, a família dela passou a nos convidar para jantares, festas de aniversário, natais. O tempo de convivência foi tornando a todos mais tolerantes, estreitando laços. Minha sogra me dava presentes. Ligava...



Para mim:

- Ela tá muito magrinha… Cuida dela pra mim, tá? Fala com ela… Você ela escuta…

- Mesmo muito tempo depois do casamento terminar.



Só existe uma verdade:

- Cada uma sabe onde lhe aperta o calo.

- O cuidado que devemos ter com as pessoas – com nós mesmas, mas também com os outros – nunca pode ser abandonado. A benevolência tem que vir dos dois lados.



Com relação a se assumir para a família, existem muitas coisas que precisam ser pesadas.


Para que arrombar uma porta se podemos abrir uma janela?


Até que ponto vale à pena magoar quem amamos?


Que postura devemos ter?


Que atitudes tomar para sermos respeitadas?


Como, quando, por quê?


Tenho as perguntas. As respostas são completamente subjetivas e pessoais.



Quanto a se assumir na sociedade:

- Fazer por vontade? Fazer para chocar? Para que se acostumem? Para termos visibilidade? Adianta dar murro em ponta de faca? Tem como tirar a ponta da faca?

- Quem pode ditar o que é certo e o que é errado?

- Juízos de valor variam de acordo com o local, a época, a pessoa.



Como sempre que lidamos com seres humanos, não existem fórmulas. Na análise combinatória da vida, as possibilidades são ilimitadas. Dependem de você, de com quem você está, de onde está.


É preciso ser como o bambu, que não se quebra porque sabe envergar quando o vento sopra forte demais.


Ser assumida é muito mais do que andar de mãos dadas ou beijar na rua. Vai além, muito além de uma simples... É simples... Nós que complicamos... Orientação sexual.


O fundamental – e que não é fácil – é se assumir para si mesma. Saber, aceitar, não ter medo de gostar de quem se é. Saber o nosso valor, acreditar, não duvidar. Mesmo que todos digam o contrário... Isso é fundamental.


O maravilhoso do ser humano é exatamente essa diversidade. O que torna qualquer um insubstituível... É saber que entre bilhões de pessoas no mundo, não existem duas iguais.


É a diferença, a singularidade de nossa essência que nos faz precios@s, rar@s e especiais.


Exatamente por isso não importa se minha família sabe, se no meu trabalho sabem, se ninguém ou se o mundo sabe. Não importa se eu bato no peito gritando:

- Sou lésbica!

- Ou se prefiro não explanar... Se ando ou não de mãos dadas com minha mulher, companheira, amante, esposa, ficante ou namorada... Se a beijo no meio da rua ou só em casa...

- Não existem regras.

- Tudo que vem de dentro, tudo o que nos faz feliz é válido.

- Tudo que nos faz sofrer precisa ser superado, mudado, transformado.

- O que é forçado… Sem comentários!




Ser assumida é simplesmente quando ser quem e o que somos nos traz felicidade...



Um comentário:

Tânia Polon disse...

Diedra Roiz... Você escreve com uma fluidez, naturalidade e charme que nos faz viajar pelo seu mundo das letras... Obgda pelo privilégio de publicar uma linda história...

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